DIA DOS NAMORADOS
Quando me pediram para escrever sobre o Dia dos Namorados para esse Blog, comecei a refletir sobre o amor e lembrei-me imediatamente do livro do Gênesis, que começa com uma declaração marcante do Criador (2:18-24): “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea ... ”, o que nos induz a pensar que o homem é um ser social e portanto, precisa aprender a conviver com o outro.
Pesquisando sobre essa passagem bíblica, encontrei um sermão sobre ele, do qual retirei alguns conceitos bastante interessantes. Primeiramente, temos a palavra idônea, palavra de origem hebraica e significa “oposto”. Literalmente é: “de acordo com o oposto dele”, significando que uma mulher complementará e corresponderá ao homem, portanto, ela deve ser igual ao homem e ser adequada para ele.
Depois temos que a mulher deve ser uma “auxiliadora” idônea o que enfurece grandemente as feministas radicais como também, algumas vezes, é motivo de preocupação, senão de ansiedade, para outras mulheres. Pensar na mulher sendo feita para o homem, ou da sua necessidade de ser obediente ao homem no casamento, é uma idéia bastante complicada. Muitas mulheres — e mesmo homens — acham tais idéias ultrapassadas, injustas e preconceituosas contra as mulheres. Nossa natureza humana nunca se agrada de renunciar a desejada independência. O homem não quer estar sujeito a alguém, mas essa posição não é uma posição degradante. A forma verbal desta palavra significa basicamente auxiliar ou suprir aquilo de que um indivíduo não pode prover-se por si só, ou seja, o outro deverá nos dar aquilo que falta em nós. As relações devem ser construídas com cooperação e respeito mútuo.
Um dos versos do mais famoso soneto de Camões diz: “amor é servir a quem vence, o vencedor”, dá ideia dessa batalha, deixar nossa individualidade para vivermos o amor é quase sofrível.
Mas será que podemos nos sentir felizes e completos quando estamos com alguém? Tenho visto pessoas que, por medo da solidão, se jogam em relações fadadas ao fracasso ou pessoas que permanecem juntas por comodismo. Somos, desde muito pequenos, levados a crer que a felicidade plena só se dará quando encontrarmos o nosso príncipe encantado. Talvez esse desejo tenha origem no Gênesis ou então nos contos de fadas, em que um cavaleiro salva a princesa encantada e hoje, apesar de todas as conquistas das mulheres, elas ainda esperam por um príncipe que venha salvá-la, e, é por isso que, a grande maioria das mulheres se decepciona depois de um tempo, quando, após o encanto inicial, começam a enxergar o outro, com todos os defeitos e qualidades, que fazem de nós humanos. As mulheres não deveriam buscar uma salvação, mas um complemento para suas vidas, afinal, ninguém poderá salvar-nos, ao não ser nós mesmas. E coitados dos homens sobre quem recaem tanta expectativa.
Nossa vida social mudou muitíssimo desde a criação, mas homens e mulheres continuam seguindo antigos padrões para os relacionamentos. O homem ainda espera da mulher uma submissão que a remeta a um estado de rebaixamento servil e a mulher idealiza de tal forma o seu parceiro que torna-se bastante difícil para o homem atingir as suas expectativas.
E costumamos pensar em Dia dos Namorados, em homem/mulher, mas hoje, existe uma pluralidade tão grande de relações, que deveríamos pensar nesse dia como o dia do amor.
Silvia AmaralAnalista de Comércio Exterior eEstudante de Letras